Foto: Nathália Schneider (Diário)
De acordo com dados de 2021 do National Geographic, cerca de 8 milhões de toneladas de lixo plástico acabam no oceano todos os anos. Em um planeta onde o lixo plástico se tornou uma das questões ambientais mais urgentes, uma pesquisadora da Universidade Federal de Santa Maria resolveu pensar em uma alternativa para diminuir os impactos ambientais causados pelo plástico. Ela uniu colágeno aos óleos essenciais para criar um produto mais sustentável: uma embalagem biodegradável para carnes.
A ideia partiu da pesquisadora Suslin Raatz Thiel durante o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia dos Alimentos da UFSM. Suslin conta que na época da graduação em Química de Alimentos, na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), ela já trabalhava com óleos essenciais e sempre gostou muito, tanto do cheiro, quanto das propriedades:
– Eu tinha em mente que eu gostaria de trabalhar com os óleos essenciais porque eles são compostos naturais ricos em atividade antioxidante e antimicrobiana – comenta.
Como os odores dos óleos essenciais são fortes e característicos, Suslin escolheu criar um produto que envolvesse os alimentos, mas que não tivesse tanta interferência nos aspectos sensoriais deles. Ou seja, os óleos não deveriam mudar nem o sabor, nem o cheiro das comidas com as quais entrassem em contato. Foi assim que ela começou a idealizar uma embalagem biodegradável à base de colágeno, com óleos essenciais de orégano e alecrim.
– Escolhi esses óleos porque eles são conhecidos na nossa culinária. São especiarias que a gente já utiliza no nosso dia a dia – explica.
Os óleos ainda permitem que o filme vire uma “embalagem ativa”. Isso significa que as propriedades antimicrobiana e antioxidante têm contato com o alimento e aumentam a vida útil dele. Um dos produtos que Suslin escolheu para embalar e testar foram carnes fatiadas, como presunto.
– Quando esse produto sofre um corte, ele fica mais suscetível à oxidação, que é uma reação química que pode alterar sabor, odor e até a composição nutricional do alimento – conta.
Com as propriedades dos óleos, o produto se manteve bem conservado. O mesmo aconteceu com um produto que foi contaminado propositalmente com uma bactéria patogênica. Depois de 9 dias, a embalagem reduziu a ação dela.
De onde vem o colágeno?
A escolha do produto está relacionada a facilidade de encontrá-lo na natureza, o que torna a embalagem ecologicamente correta. O colágeno é extraído de subprodutos da indústria da carne, assim como resíduos da indústria de pescado, principalmente de tilápias, que possuem a proteína em abundância.
Resistência da embalagem
Para algumas pessoas, a ideia que vem na cabeça quando se ouve falar de embalagem biodegradável é a de fragilidade. A embalagem produzida por Suslin é o contrário disso. Ela é tão firme e resistente que pode até acomodar carne à vácuo.
Entre os produtos que foram testados dentro da embalagem, estão: chuleta, mortadela, costela e até morangos.
Apesar da embalagem não contemplar os veganos por ser de origem animal, Suslin ressalta que ela conservou bem alguns morangos que foram embalados e que deixou a fruta ainda mais saborosa, sem alterar o gosto.
Vantagens para a natureza
De acordo com a pesquisadora, uma embalagem – dessas comuns, que vemos nos mercados –, são produzidas a partir de polímeros sintéticos, originados do petróleo. Essas embalagens, que por vezes parecem inofensivas, representam um grande risco para o ecossistema. Elas demoram cerca de 400 anos para se decompor, o que torna essencial pensar em outras alternativas de embalagem que não agridam tanto o meio ambiente:
– A embalagem à base de colágeno demora em torno de 6 a 9 dias para começar a se degradar. Em torno de um mês ela já se decompõe completamente. Fizemos análises após enterrar a embalagem em uma área com terra – comenta.
Viabilidade de produção
E será que um material ecologicamente correto como esse pode ser produzido em larga escala? Como foi produzido em escala laboratorial, a pesquisadora acredita que é necessário realizar mais testes para conseguir ver se as indústrias que já trabalham com plástico comum conseguiriam realizar todos os processos com os equipamentos que já tem. Mas já existe um indicador positivo: algumas tecnologias industriais podem acelerar o processo de produção:
– Uma etapa importante é a da secagem, que demora em torno de 24h, mas já existem equipamentos que fazem esse processo em uma escala maior. Enquanto eu demoro um dia para fazer no laboratório, a tecnologia permite que ele seque em minutos – explica.
E ela está no caminho certo de fazer esse produto acontecer. Em parceria com o colega de laboratório Felipe Giacomelli, Suslin fundou a startup Essential Bioembalagens em 2021. Ela pretende incubar a empresa na universidade para conseguir ter mais facilidade de dialogar com empresas que possam se interessar pelo produto.